O mapeamento participativo é um processo de construção de mapas de forma colaborativa com as pessoas. São mapas que contém as percepções, as histórias, as dificuldades enfrentadas no dia a dia, principais necessidades, e até mesmo sonhos e planos para construir um local melhor (seja bairro, cidade, parque, etc.). Estes mapas contêm informações únicas, que são o conhecimento destas pessoas sobre o território onde vivem. Eles não contêm apenas informações sobre rios, tipo de solo ou vegetação, mas também tudo o que os participantes do processo pensam e fazem naquele território. Além de ser uma produção única, é um material riquíssimo que pode embasar a construção e implementação de projetos socioambientais, porque contém dados valiosíssimos, e que podem ser difíceis de se obter, que são os dados participativos dos cidadãos. Os mapas são extremamente importantes porque para qualquer projeto ser bem sucedido, ele precisa contar com o apoio da sociedade.


Existem diversas ferramentas que podem tornar possível que os cidadãos opinem e participem, que tornem claro quais são suas demandas, que mostrem quais são os seus problemas enfrentados no dia a dia, e apontem suas principais necessidades. São ferramentas que promovem a inclusão social, especialmente de grupos tradicionalmente excluídos dos processos decisórios, em um planejamento ambiental e urbano sustentável. Com estes instrumentos, os cidadãos podem comunicar de forma mais eficaz as suas reivindicações, e assim, estratégias e ações podem ser desenvolvidas e incorporadas em projetos, colaborando para ambientes e cidades mais justas e sustentáveis. Algumas das principais ferramentas utilizadas neste método são: mapas falantes, mapas em escala, GPS, aplicativos de celular, mapeamento em 3D (maquetes), plataformas online, imagens de satélite ou fotografias aéreas. E ainda podem ser trabalhadas outras abordagens participativas, como World Café, Painel Integrado ou Jornal Comunitário para estimular ainda mais a participação e integrar o mapeamento. As plataformas online, como OpenStreetMap (OSM), ou ainda Maptionnaire ou Maplix (entre diversas outras), possuem um potencial de engajamento ainda maior, por serem online, além de um potencial grande para análises. 

A minha pesquisa de pós-doutorado envolveu a aplicação do mapeamento participativo para investigar o acesso a recursos básicos como água, energia e alimentos, pelos cidadãos do Novo Recreio, um bairro periférico da cidade de Guarulhos (São Paulo, Brasil), uma cidade industrializada e intensamente urbanizada, com diversos impactos socioambientais oriundos deste processo.  O mapeamento participativo foi aplicado no formato de um curso de extensão para jovens da comunidade do Novo Recreio (em parceria com a ONG Clube de Mães) com o principal objetivo de introduzir os fundamentos da prática de mapeamento e planejamento ambiental, promovendo a sensibilização e a conscientização local. Após a aplicação das abordagens participativas, o material produzido foi divulgado à comunidade e aos cidadãos de Guarulhos através de workshops, artigos e mídias sociais, para difundir a mensagem de que jovens, especialmente aqueles que vivem em áreas periféricas são capazes de produzir novos conhecimentos urbanos que podem e devem consideradas no planejamento urbano, além das propostas pensadas por eles. Este é um estudo de caso que poderia ser facilmente replicado em outros bairros.  Outra aplicação realizada na minha pesquisa foi o mapeamento participativo através de uma plataforma online (Maptionnaire), com o objetivo de captar a percepção de cidadãos guarulhenses sobre a qualidade de vida e indicadores socioambientais relacionados à água, energia e acesso à alimentos frescos. 506 cidadãos responderam ao questionário, proporcionando uma visão mais clara de como é o acesso à recursos nas cidades, as áreas mais deficientes, locais onde os problemas se acumulam, e mais, sugestões de ações e soluções propostas pelos próprios moradores, que podem ser integradas no planejamento ambiental e urbano da cidade.

Esta é uma ferramenta que pode contribuir muito com o desenvolvimento e a aplicação de projetos socioambientais, pois conta essencialmente com a participação social, com maior representatividade e inclusão de minorias. A ferramenta também proporciona boa acessibilidade de computadores e celulares, quando as plataformas online são usadas, embora não seja um pré-requisito. Permite que sejam obtidos dados de boa qualidade, que podem, por consequência, proporcionar boas análises. E finalmente, possui um grande potencial de interação com os cidadãos, proporcionando a elaboração de planos e medidas mais justas e inclusivas. Neste texto foi relatado apenas o meu projeto de mapeamento participativo que desenvolvi no pós-doutorado, mas outros projetos estão em andamento no país, com ferramentas e públicos diversos, e você pode saber mais no site Comunidades Vivas – Mapeamento Participativo: www.comunidadesvivas.com.br . Este site é um veículo de informações sobre este método, trazendo textos, publicações, cursos e outros recursos sobre o tema de mapeamento.

Dra. Carolina Monteiro de Carvalho 
(Pesquisadora e consultora em Mapeamento Participativo, Dra em Planejamento Ambiental)

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