O processo de urbanização das cidades brasileiras, historicamente não planejado, resultou na desconexão do homem com os elementos naturais, como a vegetação e as águas. Os rios, que antes eram vistos como sinônimo de fartura e fonte de recursos, devido à degradação da qualidade de suas águas, passaram a serem vistos pela população como áreas perigosas que deveriam ser ocultadas da paisagem. As cidades então, para dar lugar ao sistema viário e a exploração imobiliária dos terrenos, se moldaram aprisionando seus rios em avenidas de fundo de vale ou ocultando-os completamente em galerias subterrâneas.
No entanto, cada vez mais entende-se a importância dos elementos naturais para a qualidade de vida da população, sendo o resgate das áreas úmidas da cidade, como várzeas e vales uma oportunidade para o aumento das áreas verdes urbanas, promovendo assim diversos serviços ecossistêmicos importantes para a população, como a melhoria do microclima urbano, o controle de eventos de inundação, a melhoria da qualidade do ar e das águas, a promoção de áreas de lazer, o enriquecimento paisagísticos e a valorização do entorno.
A ciência da revitalização de rios vem em resposta ao desejo de se resgatar a conexão do homem com a água nas áreas urbanas, já que se propõe à reabilitação de rios dentro de uma ótica de atendimento às demandas do contexto em que o curso d’água pertence e não ao regresso deste à sua condição original, como é o propósito da restauração ou da Renaturalização de rios. Na revitalização, as intervenções são realizadas de forma que sejam reestabelecidos processos ecológicos e fluviais, mas respeitando a dinâmica urbana de uso e ocupação do solo, de modo a se ter um rio que seja bom para a cidade, provedor de serviços ecossistêmicos, mas sem que, no entanto, sejam necessários processos muito restritivos e demasiadamente caros de serem mantidos. Constituindo assim, um rio bom para a cidade, que é aquele que a população reconhece como um elemento ativo na paisagem.
Dentro do contexto urbano brasileiro, a revitalização de rios é um grande desafio à medida que as questões envolvendo a infraestrutura sanitária não estão totalmente equalizadas. Um rio bom para cidade demanda um bom controle de cargas poluentes, como efluentes, resíduos sólidos e outras cargas difusas, bem como um controle efetivo da produção de sedimento na bacia hidrográfica. Além disso, para que o rio seja ativo na paisagem, é necessário que esteja integrado à população, fornecendo suas margens como áreas de lazer e convívio. Todo o processo de revitalização deve sempre ser multidisciplinar, trazendo sobre a questão o olhar de especialistas das diversas áreas do conhecimento envolvidas no processo. Além disso, a participação ativa da população é o que garante a sustentabilidade do processo, garantindo assim uma revitalização de sucesso.
O SIADES contribui para a conservação dos recursos hídricos através de seus projetos voltados para a revitalização de rios, a conservação de áreas verdes que sustentam nascentes e para a conscientização da sociedade para a importância das águas através das suas iniciativas de educação ambiental.
Juliana Alencar
Engenheira ambiental (UL) e Bióloga (IBUSP). Doutorado e Mestrado pelo Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (PHA) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP) atuando na linha de pesquisa Revitalização, recuperação e renaturalização de bacias hidrográficas. Pós-doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) na área de Infraestrutura verde e azul. Professora na Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATECSP) autarquia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) na cadeira de Manejo de águas urbanas; Professora colaboradora no Programa de Educação Continuada da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (PECE-POLIUSP). Tem experiência com projetos de infraestrutura urbana, de infraestrutura verde e de drenagem sustentável, além de estudos hidráulicos, hidrológicos e de revitalização de bacias hidrográficas.